Com duas indicações ao Grammy Latino, Selo Sesc lança o disco “Anaí Rosa atraca Geraldo Pereira” no Sesc Osasco

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O sambista Geraldo Pereira faria um século em 2018 se não tivesse falecido precocemente na década de 1950, aos 37 anos. Mas lhe bastou pouco tempo de vida para deixar sua marca na história da música brasileira e tornar-se o principal expoente do samba sincopado, um estilo diferente do samba enraizado nos morros, que se caracteriza por melodias complexas e ritmo quebrado, também conhecido como “samba do telecoteco”. Celebrando a efeméride, o Selo Sesc lança em dezembro o disco Anaí Rosa atraca Geraldo Pereira, que chega primeiro às plataformas digitais e depois estará disponível nas lojas da rede Sesc e nas livrarias parceiras de todo o Brasil.

No dia 17 de janeiro de 2019, quinta-feira, Anaí Rosa e banda sobem ao palco do Sesc Osasco para um show em clima de roda de samba, logo agora que o disco celebra duas indicações para o Grammy Latino – melhor disco de samba e melhores técnicos de gravação. O show promete ser uma noite de muita festa, e para isso Anaí Rosa vem acompanhada com a banda formada por Cacá Machado (violão e cavaquinho) Gilberto Monte (guitarras), Sérgio Reze (Bateria), Meno Del Picchia (Baixo) e Alê Ribeiro (Sopros)

Sob a direção musical de Cacá Machado e a direção artística de Vadim Nikitin, o álbum retrata o legado do sambista com todas as particularidades da voz de Anaí Rosa, cantora paulista de sólida formação erudita, mas entusiasta poderosa do samba. Ao contrário do que se poderia imaginar, esse não é um disco de samba tradicional. Quando convidado para organizar o projeto do CD, Cacá Machado imaginou sacudir e tirar a obra de Geraldo Pereira do lugar convencional do sambista, mas sem lhe roubar a ginga. Chamou então Gilberto Monte, parceiro seu de tantos outros trabalhos, para subirem e descerem vários inusitados morros musicais.

A dupla teve como intuito radicalizar nos arranjos a poesia e a musicalidade de Geraldo. Sobre o processo de construção do projeto, Cacá Machado comenta: “Depois de ouvir as canções de Geraldo, Gilberto Monte e eu começamos a desconstruir certos caminhos harmônicos e melódicos já um tanto batidos em seu legado e nos sambas de sua época, trazendo outros climas e procurando entender profundamente o que estava sendo “atracado” em cada canção. Às vezes o que está sendo cantado é algo muito melancólico, mas que no samba ganha uma roupagem solar. E vice-versa. O carnaval depende sempre da morte de um “cabrito” para fazer tambor, ou seja, o coração da festa. Mas outras vezes o “cabrito” é o próprio sambista, que dá a sua pele à roda para que ela continue sambando. Que o diga, por exemplo, ‘Polícia no morro’. Com esse imaginário é que Anaí, a banda, Gilberto, eu e a equipe toda nos aventuramos a revisitar os vários Geraldos.”

Para rememorar o legado desse ícone do samba, Anaí Rosa reuniu composições emblemáticas – como “Falsa baiana”, “Escurinha”, “Falta de sorte” e “Acertei no milhar”Gravado ao vivo em estúdio, o projeto também teve uma banda pensada para desconstruir as gravações originais, mas sem descaracterizá-las, ao som de instrumentos pouco afeitos ao samba tradicional. Banda essa composta por músicos de uma geração vigorosa: Leonardo Mendes (guitarra), Meno Del Picchia (baixo), Antonio Loureiro (bateria), Douglas Alonso (percussão), Zé Ruivo (teclado), Ildo Silva (cavaco), Allan Abadia (sopros), Gian Correa (violão 7 cordas) e as vozes de Juliana Amaral, Paula Sanches, Renata Pizi e Tereza Gama. Além da guitarra de Gilberto Monte e do violão de Cacá Machado.

O magistral trombonista Raul de Souza participa das faixas “Chegou a bonitona” e “Falta de sorte”, dando balanço, peso e uma certa malandragem diferente ao samba sincopado, que contracena com o reggae e o dub, na primeira, e com o tom de brejeira lamentação, na segunda. Para fechar o time, o cantor e compositor Nelson Sargento, lenda viva do samba e uma das figuras mais importantes da escola Estação Primeira de Mangueira, participa das faixas “Que samba bom” e “Polícia no morro”.

Remetendo a um Rio de Janeiro antigo, com seus prosaicos roubos de cabrito, intrigas, confusões e rodas de samba até o sol raiar, o CD de Anaí Rosa dialoga com o mundo de Geraldo Pereira, que flagrou personagens típicas do morro carioca dos anos 1940-1950 por meio de um modo inequívoco de compor e de cantar.

Para Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc São Paulo, “a obra, produzida pelo Sesc, busca difundir a carreira de um artista fundamental para o patrimônio musical brasileiro e amplia o acesso do público às manifestações de nossa cultura popular. A voz de Anaí e a interpretação não convencional dos músicos convidados nos levam para um Rio de Janeiro antigo, que ainda hoje tem ressonância em nosso repertório musical afetivo”, destaca.

ANAÍ ROSA

Nascida em Apiaí, região do Vale do Ribeira, interior de São Paulo, a cantora e instrumentista é formada em viola de arco pela Unicamp. Já muito pequena teve contato com a música e aos dez anos já integrava o coral da escola onde estudava, em Piracicaba, quando se mudou com seus pais para lá. Integrou a Orquestra Sinfônica de Campinas, sob regência do maestro Benito Juarez, e participou do grupo Soma, que se apresentava em várias cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais.

Com cerca de 26 anos de carreira na música e uma trilha variada, que inclui forró, gafieira, ritmos latinos e música clássica, a paulista tem um carinho especial pelo samba – gênero que a consagrou. Em seu disco Samba comigo, aproximou-se da obra de vários sambistas e chorões e aos poucos ampliou seu repertório cantando composições de Cartola, Nelson Cavaquinho, Wilson das Neves, João Bosco, Billy Blanco, Geraldo Filme, Noel Rosa, Vadico, Ary Barroso – a nata do gênero. Atuou também no grupo Farinha Seca. Integrando essa banda, apresentou-se durante vários anos com o show “Noite da Gafieira Paulista”, no Bar Avenida. Anaí Rosa é conhecida na capital paulista por conduzir há anos animadas rodas de samba no bar Ó do Borogodó.

Geraldo (Theodoro) Pereira (Juiz de Fora, 23 de abril de 1918-Rio de Janeiro, 8 de maio de 1955)

Filho de Clementina Theodoro, parteira e rezadeira, vivia na Zona Rural e chegou a trabalhar como candeeiro de boi. Embora haja muitas lacunas para o resgate de sua infância, um dado é certo: Geraldo é de Juiz de Fora, Minas Gerais. Muito embora não tenha deixado rastros de sua história contada, o compositor nunca deixou de mencionar sua cidade natal. Nascido onde o mato parece não ter fim, e levado ao Rio de Janeiro para “onde o morro acaba”, sua biografia imprecisa é costurada a partir de retalhos de história oral.

Boêmio, Geraldo viveu intimamente a malandragem do Rio dos anos 1940 e 1950 e morreu aos 37 anos após uma polêmica briga com o famigerado Madame Satã (se bem que na época já estivesse gravemente doente). Deixou uma obra que não envelhece. Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Elza Soares e Monarco estão entre os artistas em atividade que gravaram sambas seus.

CD ANAÍ ROSA ATRACA GERALDO PEREIRA

  1. Que samba bom – (Arnaldo Passos / Geraldo Pereira)
  2. Falsa baiana – (Geraldo Pereira)
  3. Chegou a bonitona – (José Batista / Geraldo Pereira)
  4. Polícia no morro – (Arnaldo Passos / Geraldo Pereira)
  5. Cabritada malsucedida – (Geraldo Pereira / Wilton Wanderley)
  6. Pode ser? – (Geraldo Pereira / Marino Pinto)
  7. Você está sumindo – (Jorge de Castro / Geraldo Pereira)
  8. Escurinho – (Geraldo Pereira)
  9. Falta de sorte – (Geraldo Pereira / Marino Pinto)
  10. Ministério da economia – (Geraldo Pereira / Arnaldo Passos)
  11. Pisei num despacho – (Geraldo Pereira / Elpídio Vianna)
  12. Acertei no milhar – (Geraldo Pereira / Wilson Batista)
  13. Brigaram pra valer – (Geraldo Pereira / José Batista)
  14. Escurinha – (Geraldo Pereira / Arnaldo Passos)

Participações especiais: Nelson Sargento e Raul de Souza

Produção musical: Circus Produções

Direção de produção: Guto Ruocco

Produção executiva: Mariana Cavalcante

Direção musical: Cacá Machado e Gilberto Monte

Direção artística: Vadim Nikitin

Projeto gráfico: Casaplanta – Amanda Dafoe | Julia de Francesco

Selo Sesc

O Selo Sesc tem o objetivo de registrar o que de melhor é produzido na área cultural. Constrói um acervo artístico pontuado por obras de variados estilos, da música ao teatro e cinema. Em 2018 lançou dezenas de discos, entre eles “Debut” de Paulo Martelli, “A Paixão Segundo Catulo”, dirigido por Mário Sève, “Mar Virtual” de Eugénia Melo e Castro, “Viola Paulista”, dirigido por Ivan Vilela, “Tradição Improvisada”, de Nelson da Rabeca e Thomas Rohrer, “Cantos de Trabalho II”, da Cia. Cabelo de Maria e “Intuitivo”, de Itiberê Zwarg & Grupo, além do Box de DVDs Movimento Violão e os lançamentos exclusivos para o digital: “Basa Black Bossa” de Alexandre Basa e a série “Sessões Selo Sesc”, com gravações de shows ocorridos nas unidades do Sesc: #1: Orquestra Mundana Refugi, #2: Siba e a Fuloresta, #3: Metá Metá.

Em 2017, o Selo Sesc colocou na praça os CDs “Aluê” (Airto Moreira), “A poesia de Aldir Blanc” (Maria João), “Avenida Atlântica” (Guinga e Quarteto Carlos Gomes), “AM60 AM40 (Antonio Meneses e André Mehmari), “No Mundo dos Sons” (Hermeto Pascoal & Grupo), “Carlos Gomes, Alexandre Levy e Glauco Velásquez”(Quarteto Carlos Gomes), “Fruta Gogoia: Uma Homenagem a Gal Costa” (Renato Braz e Jussara Silveira), “Guarnieri Nepomuceno” (Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Cristina Ortiz), “Box Villa-Lobos” (Quartetos Bessler-Reis e Amazônia), “Com Alma” (Banda Mantiqueira), “Festival Música Nova” (Ensemble Música Nova), “Saudade Maravilhosa” (Mario Adnet), e o DVD “Alcance dos Sentidos” (Ivaldo Bertazzo).

ZUMBIDO

Zumbido, uma publicação Selo Sesc, é a revista digital sobre música do Selo Sesc e está disponível no aplicativo mobile do Sesc em São Paulo (iOS e Android) e no Medium (medium.com/zumbido). A revista chega para discutir a música como linguagem, sem ignorar o componente afetivo que nos move ao dar o play num fonograma, baixar a agulha no vinil ou vasculhar o encarte de um CD. Com edições temáticas, a revista serve como um espaço para reflexão sobre os diversos aspectos da cadeia musical. A cada número, são convidados compositores, escritores, jornalistas e músicos para a produção dos textos.

SERVIÇO

Selo Sesc lança o disco  

Preço sugerido: R$ 20,00

Disponível nas lojas da rede Sesc e livrarias parceiras de todo o Brasil.

Mais informações: sescsp.org.br/loja

 SESC OSASCO

Datas: 17 de janeiro de 2020

Horários: sexta-feira, às 20h30

Local: Sesc Osasco

Duração: 70 minutos

Foto: Piu Di

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