Entre os dias 25 de fevereiro e 08 de março tive a oportunidade de conhecer a cidade de Londres, na Inglaterra. A curiosidade, pautada por Observação “in loco”, bem como por estudos locais, pautou a elaboração deste ensaio, principalmente por se tratar de um Modelo de Polícia tão diferente do brasileiro.
Num modelo de Polícia Único, a atividade preventiva e repressiva imediata cabe à Metropolitan Police. A atividade preventiva imediata limita-se ao Policiamento Ostensivo a Pé (POP), especificamente em áreas comerciais e turísticas. O emprego padrão está no Repressivo Imediato, através do acionamento por ligação telefônica (999), resultando num Talão de Ocorrência com despacho imediato de viatura (tempo de resposta máximo: 03 minutos), com deslocamento emergencial, independentemente da natureza da solicitação.
O único programa de policiamento diverso da Radiopatrulha (RP), seria da SWAT de Londres (London SQUAD), que atende toda a capital britânica, cujo acionamento apenas ocorre por solicitação das primeiras Unidades de Serviço (US) no local. Não há Outros Programas de Policiamento! Há, sim, atividades departamentalizadas em três espécies: Policiamento, Atendimento de Ocorrências e Investigação.
O que realmente chama a atenção em Londres é que Toda Viatura que se Desloca na Cidade Sempre Utiliza os Sinais Sonoros e Luminosos, independentemente do tipo de ocorrência ou da natureza do fato. Assim, criou-se uma Cultura Local de sempre priorizar a passagem para os veículos da polícia, respeitando a Autoridade. Tal premissa também acompanha o Atendimento ao Público que, embora pragmático, é eivado por atenção e urbanidade ao solicitante.
Alguns pontos similares com o Modelo Brasileiro podem ser destacados. O debate público sobre a Abordagem Policial, especificamente de públicos especiais, comumentemente conhecidos como “minories”, ganha um considerável espaço nos veículos midiáticos, principalmente nos tabloides (como o The Sun e o The Guardian), estimulados e fomentados pelas Universidades e por Pesquisadores Acadêmicos. Em resposta, a Metropolitan Police apresenta sua Produtividade Policial como, por exemplo, a apreensão de 12 mil armas nos últimos quatro anos. Embora o arrazoado entre as partes seja polêmico, a Segurança Pública não é alvo de tanta atenção popular como ocorre no Brasil. Não Há Programas Policiais similares aos nossos, com cobertura jornalística de operações e ocorrências em tempo real. Apenas séries gravadas e editadas.
Outra similaridade que podemos notar na Polícia Metropolitana em Londres encontra-se no uso da Ligação de Emergência para mobilizar os ativos operacionais. Grande parte das demandas se inicia com a ligação 999 (nosso 190), além do envio de mensagens por aplicativos específicos por lugar onde se encontra (por exemplo, o n° 61016 é utilizado para informar sobre crimes ou pessoas em atitudes suspeitas nas mais de 100 linhas de trem e metrô pela cidade onde, através da geolocalização, é possível mobilizar imediatamente a Polícia). As funcionalidades via celular presentes no Estado de São Paulo, como o SOS Mulher mostram que a Polícia Militar bandeirante também utilizam a tecnologia para otimizar a segurança pública.
Por fim, cabe destacar a importância da Ostensividade no fardamento e, principalmente, nas viaturas. A Polícia criada pelo Sir Robert Peel, enterrado miticamente na Abadia de Westiminster (local de coração dos Reis da Inglaterra desde o Século X d.C.) se rendeu à necessidade de visibilidade, adotando o verde fluorescente como cor fundamental para sua identificação perante o público. Se, por um lado, perde-se um pouco do tradicional quadriculado “preto e branco” típico da caracterização mundial; por outro se investe numa identificação clara e fácil perante a sociedade que, dia e noite, pode perceber o trabalho de seus agentes.
Não existe uma Polícia Melhor, mas uma Polícia Necessária! Cada sociedade exige um determinado labor de suas forças de segurança. Para tanto, o binômio Tradição e Inovação certamente são essenciais e imprescindíveis para que cada Instituição supere as dificuldades enfrentadas por cada geração e persista prestando seus serviços essenciais. A Metropolitam Police, amplamente questionada após a grande praga e o monumental incêndio que dizimou quase toda a cidade de Londres no século XVIII, se reinventou com a mesma inteligência e perspicácia de nossa Polícia Militar do Estado de São Paulo, após os episódios da favela naval em 1997. Afinal, Police vem do mesmo radical latino Polis, que origina tanto as palavras Cidade como Política. Nosso serviço era, é, e sempre será Essencial para garantir o futuro daqueles que nos sucederão amanhã. Foco na Missão!
*Major PM Eduardo Mosna Xavier, Subcomandante do 14° BPM/M, Doutor em Educação pela USP e Doutor em Ciências Policiais pelo CAES
Foto: 14º BPM/M