A reação já era esperada. As ações da varejista Americanas (AMER3) tiveram uma queda histórica, nesta quinta-feira, depois do anúncio de um rombo de R$ 20 bilhões no balanço da empresa. A inconsistência contábil, em análise preliminar, deixou os investidores em pânico. O mercado abriu, e as ações da empresa desabaram.
Maior que o seu próprio valor de mercado, que vale cerca de R$ 10 bilhões, a cifra expressiva foi o motivo que levou Sergio Rial a deixar a presidência da companhia apenas 9 dias depois de assumir o cargo. O diretor financeiro da empresa, André Covre, que havia tomado posse junto com Rial, também renunciou. Ao renunciarem aos cargos, os executivos parecem querer mostrar que não têm responsabilidade pelo problema gigantesco, principal assunto dos mercados nesta quinta-feira, 12 de janeiro.
Entre investidores e analistas do mercado, a notícia do rombo de R$ 20 bilhões caiu como uma bomba. Causa extrema perplexidade porque, teoricamente, a empresa segue controles rígidos, exigidos pela B3, a bolsa de valores brasileira. Além disso, é analisada anualmente por uma das maiores auditorias do mundo. A companhia tem obrigação de ser clara e transparente com os seus números.
Acionistas minoritários e também consumidores estão aflitos com os desdobramentos da situação. Embora o comunicado oficial da empresa afirme que o efeito caixa é imaterial, a falta de informações e detalhes sobre o que levou ao rombo causa muita incerteza aos ativos e ao futuro da empresa. A possibilidade de uma dívida maior que o anunciado e possíveis problemas para manter o pagamento de fornecedores em dia, por exemplo, são alguns dos riscos que levam analistas a colocar as ações das Americanas sob revisão.
A Comissão de Valores Mobiliários (AVM) abriu um processo administrativo para checar a contabilidade das Americanas e outro para apurar o anúncio das inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões. Os processos estão em fase inicial, com recolhimento de informações e apuração dos fatos. Os investidores querem informações claras e seguras. Diante de possíveis fraudes, os acionistas minoritários podem até acionar a CVM para reaver eventuais prejuízos. Mas é um caminho que ninguém quer percorrer.
*Rogério Araújo é gestor e consultor financeiro, especialista em investimentos, fundador da Roar Educacional Consultoria e líder educacional na Empiricus Investimentos
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