Em 1866, numa Polônia partilhada, foram publicados os versos de uma canção intitulada “Em troca de pão”, nos quais um montanhês era questionado se não tinha pena de abandonar sua terra, ao que respondia, em meio às lágrimas, envolto em um olhar melancólico, que precisava fazer isso em troca de pão. Exatamente nestas palavras, podemos encontrar o que sentem grande parte dos quase 5 milhões de emigrantes que deixaram o Brasil em busca de novas oportunidades.
Uma palavra inglesa conhecida como “homesickness” também sintetiza o luto do lar traduzido na frase: “em casa sou o estrangeiro. No estrangeiro, sinto falta de casa”!
A emigração brasileira não é fenômeno recente, tendo se iniciado no final do século XIX. Enquanto naquela época perdiam-se braços para lavouras estrangeiras, hoje perdem-se cérebros jovens para economias inovadoras. Nos últimos cinco anos, a emigração do Brasil registrou um crescimento de 40%. Segundo o IPEA, em 2024, pela primeira vez desde 1890, o número de brasileiros deixando o país supera o de imigrantes ingressando.
Crise econômica é a principal causa do êxodo para 72% dos brasileiros que decidem trocar o Brasil por destinos como os Estados Unidos, Portugal ou Irlanda. Somam-se a isso um perceptível aumento nos índices de violência e, também, uma crescente polarização política que desanimam as novas gerações.
A maioria dos emigrantes brasileiros está na faixa etária de 25 a 45 anos, com ensino superior completo e/ou pós-graduação e são casados ou têm filhos, o que justifica uma busca de melhores condições de vida para suas famílias.
Embora a saudade, dificuldades com idioma, xenofobia e sentimento de não pertencimento sejam os principais problemas enfrentados, mais da metade dos brasileiros que emigram para a Europa se dizem felizes e um número reduzido considera voltar ao Brasil.
Os setores que mais exportam trabalhadores são de tecnologia e engenharia, saúde, (médicos e enfermeiros), hotelaria, comércio e aviação. Este último foi responsável por um aumento de 140% no volume de emigração para os Emirados Árabes Unidos.
Planejamento é fundamental. Qualificação profissional, domínio de idiomas, documentação regularizada ajudam, e muito! Definir o objetivo, pesquisar o destino, preparar-se financeiramente, com um reserva de emergência de 3 a 6 meses, fazer uma viagem exploratória, garantir vistos adequados, não subestimar o inverno e construir redes de apoio antes da mudança, faz toda a diferença.
Aceitar a ambiguidade, compreendendo que é possível amar o novo país e ainda sentir saudades, construir pontes, mantendo as tradições como falar a língua materna em casa, também é importante. O vazio do emigrante não desaparece, mas pode ser transformado em algo mais suportável – uma melancolia que coexiste com a gratidão, uma identidade que, mesmo dividida, tende a se tornar cada vez mais rica.
*Aleksandra Sliwowska Bartsch Cabrita é economista, mestre em Engenharia de Produção, Doutora em Gestão da Inovação Tecnológica e professora de Economia do Centro Universitário Internacional Uninter.
Foto: Banco Uninter