Ao longo do mês, a campanha Outubro Rosa vem para alertar sobre a prevenção e conscientização do câncer de mama, que atinge majoritariamente mulheres – 99% dos 66.280 novos casos diagnosticados todos os anos, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) – e atualmente é o tipo de tumor mais frequente diagnosticado no mundo. Mas para além da atenção às mamas, especialistas alertam para a necessidade de expandir o olhar para os tipos de câncer que afetam o sistema reprodutor feminino (útero, ovário e endométrio).
Segundo o Inca, cerca de 30 mil brasileiras são diagnosticadas com cânceres ginecológicos por ano, sendo o mais comum deles, responsável por mais da metade desses casos, o câncer do colo do útero, que afeta especialmente mulheres mais jovens. Já os tumores ovarianos e de corpo uterino tendem a surgir naquelas acima de 50 anos.
Diante deste cenário, a oncologista Angélica Nogueira, do Grupo Oncoclínicas, comenta que medidas simples podem ajudar a conter essas estatísticas, entre as quais a realização de exames de rotina com o acompanhamento de ginecologista. Outro ponto é a vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV), um fator importante e que não pode ser deixado de lado.
“Mais de 90% dos casos do câncer do colo do útero estão ligados ao HPV. Infelizmente, apenas um terço das meninas são vacinadas no Brasil e isso pode impactar diretamente no problema. Isso poderia reduzir em até 95% as chances de desenvolvimento da neoplasia”, destaca.
Desde 2014, a vacina contra o HPV é oferecida gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde no Brasil para as meninas de 09 a 14 anos e também para os meninos de 11 a 14 anos. “A imunização pode ajudar não só a prevenir o câncer do colo do útero, como também o de vulva, vagina e ânus nas mulheres e de pênis nos homens”. Além disso, vale lembrar que a vacina também é indicada para pacientes com câncer, HIV e transplantados (até os 45 anos nas mulheres e 26 anos nos homens).
“O câncer do colo do útero ainda é, infelizmente, considerado um problema mundial de saúde. Nos países em que há uma alta taxa de infecção pelo HPV, a neoplasia possui uma maior repercussão. Apesar de na grande maioria dos casos as mulheres terem a infecção resolvida por volta de seus 30 anos, ainda existe a probabilidade do vírus evoluir para o câncer do colo do útero”, comenta a oncologista.
COMO IDENTIFICAR TUMORES GINECOLÓGICOS
Considerado grave e silencioso, o câncer ginecológico é infelizmente descoberto em 75% dos casos em estágio avançado. Contudo, alguns sintomas podem indicar que algo está errado com o corpo, por isso, fique de olho se houver:
Sangramento vaginal anormal
Febre que persiste por mais de 7 dias
Inchaço abdominal
Gases
Dor pélvica ou pressão abaixo do umbigo
Dor de estômago
Alterações intestinais
Mamas sensíveis, com secreção, nódulos, inchaço ou vermelhidão
Fadiga
Vulva e vagina com feridas, alteração da cor ou bolhas
Perda de peso sem motivo (10kg ou mais)
Quanto ao rastreamento dos cânceres ginecológicos, Angelica Nogueira comenta que o Papanicolau é uma maneira de identificar as lesões pré-malignas antecipadamente. “Ele pode ajudar a diagnosticar precocemente o câncer do colo do útero e evitar que o tumor seja encontrado em estágios mais avançados, prejudicando o tratamento e deixando-o mais complexo”.
Já nos casos de câncer de ovário e endométrio, ainda não existem bons exames de rastreamento precoce. Em casos como esse, o médico pode solicitar exames clínicos ginecológicos, laboratoriais e também de imagem que ajudam a identificar a presença de ascite ou acúmulo de líquidos, além da extensão da doença em mulheres com suspeita de disseminação intra-abdominal. Contudo, se houver suspeita de câncer de ovário, por exemplo, é necessário uma avaliação cirúrgica.
Além disso, o raio-x ou tomografia computadorizada do tórax pode auxiliar na análise de derrame pleural, metástases pulmonares ou ainda quaisquer outras alterações.
FATORES DE RISCO
CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: HPV, ter tido cinco ou mais partos, HIV, tabagismo e constante troca de parceiros
CÂNCER DE OVÁRIO: menarca precoce (antes dos 12 anos) ou menopausa após os 52 anos, mulheres que nunca tiveram filhos ou que possuam histórico da doença na família.
CÂNCER DE ENDOMÉTRIO: menarca precoce (antes dos 12 anos) ou menopausa após os 52 anos, mulheres que nunca tiveram filhos, idade acima dos 50 anos, obesidade, diabetes, ou que realizaram terapia de reposição hormonal de maneira inadequada após a menopausa.
PREVENÇÃO
De acordo com a oncologista do Grupo Oncoclínicas, no caso do câncer do colo do útero, a prevenção deve ser realizada através do Papanicolau (a partir dos 25 anos), sendo repetido uma vez por ano por três vezes e, se não houverem alterações, uma vez a cada três anos após esse período, vacinação contra o HPV e uso de preservativos durante a relação sexual.
“No caso dos cânceres de útero e endométrio, por não existirem exames específicos de rastreamento, é fundamental praticar regularmente exercícios físicos, manter uma dieta equilibrada e, caso seja indicado pelo especialista, o uso da pílula anticoncepcional”, comenta a especialista.
TRATAMENTO
O tratamento adequado irá depender do estadiamento das neoplasias e também se existem metástases. “Podem ser recomendadas radioterapia, cirurgia, quimioterapia, braquiterapia, ou ainda a combinação de dois ou mais tratamentos”.
“Não podemos esquecer que quando falamos de prevenção e tratamento, é muito importante buscar por fontes de informação seguras. Na internet, por exemplo, existem diversos boatos que podem impactar de maneira negativa na saúde da população. Por isso, sempre tire as principais dúvidas com um especialista e confirme quaisquer informações recebidas pelas redes sociais antes de compartilhar ou iniciar tratamentos milagrosos. Isso pode trazer consequências graves para os pacientes oncológicos e até mesmo dificultar e agravar o quadro de saúde”, finaliza Angélica Nogueira.
*Angélica Nogueira é oncologista do Grupo Oncoclínicas