O grave acidente envolvendo um ônibus de turismo que deixou pelo menos dez mortos na Rodovia Francisco da Silva Pontes, em Itapetininga, expõe a urgência de mudar um hábito que pode custar milhares de vidas todos os anos: viajar em ônibus sem cinto de segurança. “O equipamento é projetado para reduzir mortes e ferimentos graves, especialmente em colisões frontais e capotamentos. Apesar de o uso estar bem consolidado entre os ocupantes dos carros de passeio, a maioria das pessoas insiste em não usar nos ônibus”, comenta o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.
O especialista em segurança viária compara a situação ao transporte de caixas soltas dentro do veículo. Em caso de impacto ou desaceleração brusca, os corpos não retidos tendem a continuar se movendo na velocidade do ônibus, resultando em colisões graves. “Os passageiros sem cinto são equiparados a caixas soltas. A qualquer impacto, esses corpos vão ser projetados bruscamente sobre outros corpos e componentes do ônibus, causando o que chamamos de efeito boliche”, explica. Um problema adicional é que as estruturas dos ônibus não são projetadas para suportar esses impactos, resultando em aglomerações de assentos e passageiros, normalmente no sentido do motorista.
Coimbra destaca que a eficácia do cinto de segurança pode ser comprometida em situações nas quais os passageiros viajam em posição inclinada, como é comum em ônibus leito. “Para automóveis quando reclinamos as poltronas dianteiras para mais de 30 graus, existe um prejuízo importante da eficácia do cinto de segurança de três pontos. No caso de ônibus, onde existe somente o cinto subabdominal para os passageiros, reclinações excessivas da poltronas, como em ônibus semileito e leito, podem ser decisivas para o comprometimento da eficácia desse dispositivo. Isso potencializa lesões e contribui para o efeito submarino do corpo, que é quando ele se desloca em sentido ao assoalho do veículo”, comenta.
SINISTRO
O ônibus, que transportava 52 passageiros, colidiu com o pilar de sustentação de um viaduto no km 171 por volta da meia-noite desta sexta-feira. Os passageiros eram romeiros que iam de Itapeva até Aparecida, em uma viagem anual organizada por uma família. O ônibus estava em situação regular, conforme informado pelo governo, e os motivos do acidente ainda estão sendo investigados pela Agência Reguladora de Transportes de São Paulo (Artesp).
Nesse cenário, diz o especialista, é possível afirmar que muito sofrimento seria poupado caso os passageiros estivessem usando o cinto de segurança. “Por isso é indispensável um trabalho informativo e de conscientização intenso para que passageiros e empresas de transporte estejam cientes dos riscos e tomem medidas para garantir a segurança de todos a bordo”, completa.
*Alysson Coimbra é diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra) e especialista em segurança viária
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