As brigas nas campanhas políticas não começaram nas eleições municipais deste ano, é algo muito mais antigo do que andar para trás. No entanto, mesmo sabendo que não se trata de algo novo, mas sim potencializado pelos sites de mídias sociais, seguimos alimentando a violência política e deixando de lado o que realmente deveríamos discutir, cobrar e exigir dos candidatos a prefeito: propostas concretas e aplicáveis para solucionar os problemas que vivenciamos há anos nos municípios.
Estamos, cada vez mais, trocando o diálogo sobre as nossas vidas nos municípios pelo espetáculo promovido pelos políticos nos debates de TV e em seus perfis nas redes sociais. Um espetáculo que aguardamos como quem espera o próximo episódio de uma série no canal de streaming.
Quando a verdadeira espera deveria ser na viabilidade técnica e financeira de cada proposta apresentada pelos candidatos para solucionar os dilemas locais na saúde, educação, moradia, segurança, inclusão, entre outros, a curto, médio e longo prazo.
Mas, estamos abrindo mão da importância da nossa vida nos municípios para auxiliar candidatos que buscam ocupar os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador apenas pelo discurso de ódio, desinteresse pelo bem público, desprezo pelas instituições, ataques gratuitos a adversários (que não são inimigos) e pela falácia de saber como solucionar os problemas que nos fazem esperar anos por uma consulta médica, uma vaga na creche ou por acesso a equipamentos de cultura e esporte perto de casa.
Ao reproduzirmos a violência dos candidatos a partir da nossa interação nas mídias sociais, pelas figurinhas via WhatsApp ou nas rodas de conversa, estamos validando, de alguma forma, a ideia de que o debate político é sobre isso, e não sobre nós. E enquanto mantemos o nosso foco na espera da próxima jocosidade dos candidatos, é mais uma pessoa que entra na longa fila de espera por uma consulta médica.
Sim, de algum modo, estamos alimentando tudo o que não precisamos para resolver os problemas das cidades onde vivemos. Não estamos analisando o histórico dos candidatos, comparando propostas, avaliando a base de apoio dos candidatos a prefeito e nem sempre demonstrando real interesse nos candidatos a vereador que os apoiam. Esses são pontos que, mesmo em 45 dias, podemos observar antes de, por meio do voto, delegar o direito de qualquer candidato de nos representar pelos próximos quatro anos.
Isso não é mera fantasia, pois vivenciamos algo parecido nas eleições presidenciais de 2018 e 2022. E se não mudarmos o nosso comportamento, continuaremos colocando o espetáculo falacioso à frente de nossas reais necessidades, que só serão atendidas com a participação efetiva de quem realmente importa em cada eleição: o povo.
Pois é! Nunca foi sobre Pablo Marçal, sempre foi para nos manter fora do verdadeiro debate!
*Marcelo Simões Damasceno é jornalista, cientista político, mestre e doutorado em comunicação social