Estudo da Unesp investiga os desafios para a sobrevivência do Cerrado

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De acordo com especialistas, o Cerrado é a mais biodiversa savana do mundo, chegando a apresentar 35 espécies tipos de plantas por metro quadrado. É também o berço de algumas das mais importantes bacias hidrográficas do território brasileiro: as do Xingu, Tocantins, Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Gurupi, Jequitinhonha, Paraná, Paraguai, entre outras. Pressionado pela expansão da fronteira agropecuária e por práticas inadequadas de manejo, a sobrevivência do bioma, que está dramaticamente ameaçado.

Entre as muitas ameaças que sofre, uma é a intrusão de espécies vegetais invasoras. E, dessas, as mais insidiosas são gramíneas africanas, como o capim braquiária, introduzido no Brasil para servir de pastagem para bovinos.

Capaz de se propagar a partir das áreas de plantio para o interior de unidades de conservação, promove alterações nas comunidades de plantas nativas, reduzindo a ocorrência de espécies ameaçadas que possuem preciosas propriedades medicinais, como a catuaba e a mama-cadela, por exemplo.

Comunidades inicialmente invadidas por Melinis minutiflora (colunas da esquerda) e por Urochloa brizantha (colunas da direita). Fotos após dois anos do experimento de queima, mostrando parcelas de controle não queimadas (primeira linha); queima precoce (em maio, segunda linha); modal (em julho, terceira linha); e tardia (em setembro, última linha). Em comunidades dominadas por cada tipo de invasora, a primeira e a segunda coluna representam amostragens nas estações chuvosa e seca, respectivamente

MANEJO

Uma pesquisa investigou se o uso adequado do fogo, como técnica de manejo, poderia controlar ou ao menos reduzir a ocorrência dessas espécies invasoras nas unidades de conservação.

O estudo foi realizado durante o trabalho de mestrado da agora doutoranda Gabriella Damasceno, sob orientação de Alessandra Fidelis, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O estudo recebeu suporte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do auxílio Apoio a Jovens Pesquisadores conferido a Fidelis e de bolsa de mestrado concedida a Damasceno. Os resultados foram divulgados no Journal of Environmental Management.

“Nosso trabalho avaliou o efeito da época de queima – início, meio ou fim da estação seca – na abundância de Melinis minutiflora [capim-gordura] e Urochloa brizantha [capim braquiária], duas gramíneas invasoras encontradas no interior de várias unidades de conservação de Cerrado. Considerando que as previsões climáticas para o bioma indicam aumento na ocorrência de eventos extremos, como secas, temperaturas máximas e mínimas, investigamos também como as respostas dessas duas invasoras são influenciadas pela precipitação e pelas temperaturas máximas e mínimas do ar”, explica Damasceno à Agência Fapesp.

RESULTADOS

Os resultados mostraram que as duas espécies apresentam respostas opostas ao manejo com fogo: o capim-gordura foi controlado por queimadas em todas as épocas, enquanto o braquiária não foi controlado por nenhuma.

“A pesquisa trouxe também um resultado inesperado: quando o capim-gordura é eliminado pelo fogo, o capim braquiária adentra mais facilmente a área queimada. Queimadas no início e no fim da estação seca controlaram Melinis minutiflora, mas também aceleraram uma nova invasão por Urochloa brizantha”, afirma Fidelis à Agência Fapesp.

Assim como as respostas ao manejo, as duas espécies também foram distintamente influenciadas pelas variáveis ambientais. Quanto maior a precipitação, maior o processo de substituição de uma gramínea por outra. Menores temperaturas mínimas foram prejudiciais às duas espécies, porém, de formas diferentes. Quanto mais frio, menor a abundância de Melinis minutiflora viva e maior a abundância de Urochloa brizantha morta.

“Nossos resultados demonstram que o controle de gramíneas invasoras em áreas de Cerrado será ainda mais desafiador no futuro, já que mesmo espécies similares respondem de forma distinta a iniciativas de manejo. Além disso, respostas conjuntas de duas ou mais espécies invasoras podem ser difíceis de prever, dada a variabilidade da influência de fatores ambientais nas respostas de cada espécie”, comenta Damasceno.

O artigo (em inglês) pode ser lido em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0301479720309440?via%3Dihub.

Fonte: Portal do Governo do Estado de São Paulo

 

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